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Quando expressada e vivenciada regularmente, a gratidão pode alterar a saúde física e psicológica. Getty Images

 

Por Mark Travers

 

 

Benefícios da prática vão além do mero pensamento positivo e envolvem mecanismos do cérebro e da psicologia, que promovem o bem-estar; entenda.

 

Focar consistentemente no positivo traz benefícios significativos e torna a gratidão uma ferramenta poderosa para melhorar o bem-estar. A gratidão envolve reconhecer o que há de bom na vida e perceber que sua origem muitas vezes está fora de nós mesmos. Está nas outras pessoas, na natureza ou em uma força maior, dependendo de suas crenças individuais.

 

Antes celebrada em tradições filosóficas e religiosas, a gratidão agora ganhou maior atenção na pesquisa psicológica e neuropsicológica por seu profundo impacto na saúde mental. Do ponto de vista da neuropsicologia, a prática é uma ferramenta poderosa, devido à sua capacidade de engajar e transformar várias funções e processos cerebrais.

 

A seguir, veja dois mecanismos neuropsicológicos que explicam a eficácia da gratidão e por que incorporá-la à sua rotina diária é indispensável.

 

  1. Ativação do sistema de recompensa do cérebro

A gratidão estimula a liberação de dopamina, conhecida como o neurotransmissor do “bem-estar”, em regiões cerebrais como a área tegmental ventral (VTA) e o núcleo accumbens. Essa liberação de dopamina aumenta os sentimentos de alegria e de contentamento e incentiva expressões repetidas de gratidão. O resultado é um ciclo de feedback positivo onde, quanto mais gratidão expressamos, mais nosso cérebro busca situações e comportamentos que gerem esses sentimentos gratificantes. Esse ciclo pode contribuir para uma perspectiva mais positiva da vida.

 

De acordo com o Centro de Pesquisa de Consciência Plena da UCLA, indivíduos que praticam gratidão exibem uma maior ativação no córtex pré-frontal medial após três meses do início da prática. Isso sugere que o engajamento consistente na gratidão pode induzir mudanças duradouras na função e estrutura cerebral, particularmente no sistema de recompensa do cérebro.

 

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Além disso, a pesquisa sugere que ativar os centros de recompensa do cérebro por meio da gratidão pode aumentar a motivação e o comportamento direcionado a objetivos, o que é especialmente vantajoso para pessoas enfrentando depressão ou ansiedade – condições frequentemente caracterizadas por déficits motivacionais. A gratidão ajuda a interromper o ciclo de inatividade ao amplificar o desejo de buscar atividades gratificantes.

 

A liberação de dopamina associada à gratidão não apenas eleva o humor, mas também melhora a concentração e a vitalidade, facilitando realizações pessoais e profissionais. Além disso, ela mitiga o viés cognitivo negativo inerente à depressão e à ansiedade, destacando experiências positivas, o que leva a um humor melhorado e uma perspectiva de vida mais equilibrada.

 

  1. Redução do estresse e ansiedade

A prática da gratidão tem mostrado reduzir significativamente os níveis de estresse e de ansiedade, um efeito que pode ser explicado por sua influência no sistema nervoso autônomo e nos centros de regulação emocional do cérebro. Os seguintes mecanismos neuropsicológicos oferecem insights sobre como a gratidão fortalece o bem-estar mental.

 

Ativação parassimpática:

Práticas de gratidão ativam o sistema nervoso parassimpático (SNP), responsável pelas funções de “descansar e digerir” do corpo. Essa ativação contraria a resposta de “luta ou fuga” gerida pelo sistema nervoso simpático (SNS) durante o estresse. A ativação do SNP induzida pela gratidão leva a uma sensação de relaxamento, reduzindo assim marcadores de estresse como os níveis de cortisol. Esse relaxamento apoia a saúde mental e física ao favorecer funções corporais como a digestão, resposta imune e sono, frequentemente comprometidas durante períodos mais estressantes. Pesquisas pioneiras corroboram a ligação entre gratidão e uma melhor qualidade subjetiva do sono, maior duração, menor latência e menor disfunção diurna, com o sono de qualidade fortalecendo a função imunológica e a resiliência contra doenças físicas.

 

Além disso, a gratidão está correlacionada com uma melhor variabilidade da frequência cardíaca, o que indica um sistema nervoso autônomo equilibrado, associado a uma melhor gestão do estresse e regulação emocional.

 

Modulação da amígdala:

A amígdala, crucial para o processamento emocional e para as respostas ao medo, influencia significativamente as reações ao estresse e à ansiedade. Um estudo recente publicado na revista científica “Brain, Behavior and Immunity” sugere que a prática regular da gratidão diminui a reatividade da amígdala a estressores. Consequentemente, indivíduos que expressam gratidão regularmente experimentam reações emocionais menos intensas durante situações desafiadoras, promovendo um estado emocional mais calmo e equilibrado.

 

Apoiada por evidências de pesquisa, essa regulação emocional aprimorada leva à redução dos níveis de ansiedade e melhora dos mecanismos de enfrentamento do estresse. Isso, em última análise, leva à resiliência emocional, capacitando os indivíduos a enfrentar adversidades com uma perspectiva positiva.

 

O poder da gratidão vai além do mero pensamento positivo e envolve profundos mecanismos neuropsicológicos que promovem o bem-estar. Compreender esses mecanismos pode ajudar os indivíduos a aproveitar as práticas de gratidão de forma mais eficaz para a resiliência psicológica e o bem-estar geral (Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder; Forbes, 26/5/24)

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