Perdoar melhora a saúde mental - Maria Medem/The New York Times

Por Catherine Pearson

Estudo mostra que a prática melhora a saúde mental, diminuindo sintomas de ansiedade e depressão.

 

Para alguém que tem uma vida tranquila, meu filho de 8 anos pode guardar um rancor sério. Do nada, ele recentemente trouxe à tona "aquela coisa ruim do lápis que aconteceu". Levei algum tempo para decifrar que ele estava falando sobre o colega que roubou um de seus utensílios de escrita... quase dois anos atrás.

Eu pensava sobre a incapacidade do meu filho de esquecer o Grande Incidente do Lápis da Primeira Série, quando soube recentemente de uma nova pesquisa que sugere que o perdão melhora o bem-estar mental –e oferece um roteiro para chegar lá.

No estudo, que foi apresentado em uma conferência interdisciplinar sobre perdão na Universidade Harvard e está atualmente em revisão para publicação, os pesquisadores designaram aleatoriamente 4.598 participantes de cinco países em grupos. Um conjunto recebeu uma apostila de perdão com exercícios que eles fizeram por conta própria.

(Um exemplo: escreva a história de uma mágoa específica que você deseja perdoar. Em seguida, escreva-a novamente como um observador, sem enfatizar o quão ruim o malfeitor foi ou como você se sentiu vitimado. Procure pelo menos três diferenças entre as duas versões.) Os do grupo de controle esperaram duas semanas antes de receber a apostila.

Quando as duas semanas terminaram, os pesquisadores descobriram que os participantes que concluíram o caderno de exercícios se sentiram mais inclinados ao perdão do que os do grupo de controle –e reduziram os sintomas de ansiedade e depressão. Essas descobertas concordam com outros estudos sobre o perdão, que descobriram que pode ser uma bênção para a saúde mental, ajudando a fazer coisas como diminuir o estresse e melhorar o sono

Se você está sentindo ciúmes do seu amigo, especialistas recomendam fazer perguntas que podem fortalecer o relacionamento Personare.

"O que o perdão faz é libertar a vítima do ofensor", diz Tyler VanderWeele, diretor do Programa de Florescimento Humano em Harvard e um dos coautores do estudo. "Eu nunca diria 'Uma vez que você perdoou, está tudo bem'." Mas é uma alternativa melhor à ruminação ou repressão, afirma. E é provavelmente por isso que pode melhorar o bem-estar mental geral.

Como meu filho demonstra, pode ser difícil perdoar até mesmo transgressões menores –e não estou pensando nele aqui. Eu poderia facilmente tagarelar sobre uma lista de ofensas que venho segurando há anos. Mas VanderWeele acredita que o perdão é uma habilidade que pode ser praticada. Falei com ele sobre como começar.

As perguntas e respostas foram editadas e condensadas para maior clareza.

O que significa perdoar alguém? Minha definição de trabalho é apenas substituir má vontade por boa vontade em relação ao ofensor. Perdoar não é esquecer a ação ou fingir que não aconteceu, não é desculpar ou tolerar a ação, e não é o mesmo que se reconciliar ou abrir mão da justiça. Pode-se perdoar enquanto ainda se busca um resultado justo.

O livro de exercícios do estudo depende muito do trabalho de um dos coautores, Everett Worthington, que também tem uma notável história de perdão: sua mãe foi assassinada em meados da década de 1990 e ele perdoou o perpetrador. Quais são algumas das principais estratégias? Uma delas é recordar a mágoa, não tentar reprimi-la. Outra é tentar ter empatia com o ofensor –sem tolerá-lo ou invalidar seus próprios sentimentos.

Mais fácil dizer do que fazer! Um exercício é colocar duas cadeiras e fingir que o infrator está numa delas. Depois de descrever o que aconteceu pela sua perspectiva, você se senta na cadeira do ofensor e descreve o que aconteceu da perspectiva dele. Pode ser um pouco perturbador, mas é uma experiência muito poderosa.

Você acha que as pessoas podem melhorar no perdão ao longo do tempo? É possível mudar para uma disposição melhor em relação ao perdão. Pensar: "Como quero interagir com o mundo de maneira mais geral? Esta certamente não será a última vez que serei magoado ou ofendido por outras pessoas, então, quando isso acontecer novamente, posso estar numa posição melhor para perdoar?"

Numa sociedade como a nossa, com polarização e animosidade crescentes, essa disposição para perdoar é potencialmente muito necessária  (The New York Times, 8/5/23)

doe aqui doe aqui

Ao navegar pelo nosso site, você concorda com a Política de Privacidade do IMA. Para mais, acesse a página Política de Privacidade, clicando aqui