Encontro entre funcionários da Chilli Beans para discutirem suas emoções - Divulgação- Chilli Beans.jpg

 

Cursos oferecem aulas para formação dos profissionais e de consultores, mas especialista alerta para 'happywashing'.

À sopa de letrinhas dos cargos corporativos, bem conhecida no meio executivo, empresas adicionam agora uma nova sigla: CHO (Chief Happiness Officer) –diretor de felicidade, na tradução do inglês. O profissional é responsável, sobretudo, por elaborar ações voltadas para a saúde mental e o bem-estar dos funcionários da companhia.

No Grupo Heineken, a diretoria foi anunciada em maio deste ano, depois de uma série de discussões, desencadeada durante a pandemia, sobre a saúde mental dos colaboradores. Dentro de toda a companhia, a Heineken brasileira é a única que implementou o cargo até o momento, segundo a CHO da marca, Lívia Azevedo.

Ela afirma que, entre as principais ações, está a formação de embaixadores da felicidade –funcionários de diferentes cargos e áreas que se oferecem para receber treinamentos sobre a ciência da felicidade. Durante a capacitação, os voluntários participam de dinâmicas sobre emoções e relacionamentos positivos, além de receber conhecimento teórico, para que influenciem e atuem junto às lideranças locais.

"Nós temos 30 centros de distribuição no Brasil e 15 fábricas. É uma capilaridade muito grande. Para que a nossa jornada chegue nessas localidades, nossa estratégia foi formar esses embaixadores para que eles possam distribuir as ações que nós desenhamos aqui", diz Azevedo.

A Heineken afirma fazer, a cada 15 dias, uma pesquisa confidencial para medir o nível de satisfação de seus funcionários com o ambiente de trabalho e também com suas vidas pessoais. A liderança tem acesso aos resultados e, depois de coletá-los, analisa as respostas e conversa com as equipes.

Outra marca que passou a ter um CHO no seu quadro de líderes em maio, a Chilli Beans contratou primeiro um consultor de felicidade corporativa para elaborar um plano para a empresa.

 

Vinicius Kitahara, fundador da consultoria Vinning, que presta serviços para a Chilli Beans, conta que começou a estudar a ciência da felicidade com amigos, mas, depois de se aprofundar no tema em um curso de Harvard, passou a atender também empresas em 2016.

Primeiro vieram os pequenos e médios negócios, mas, com a chegada da pandemia, a procura pela consultoria de felicidade explodiu e vem ganhando cada vez mais força, diz.

"A gente fez trabalhos pontuais, vários workshops, e, neste ano, começou uma onda muito grande com relação a esse movimento. Quando a Heineken criou uma diretoria de felicidade foi um divisor de águas. Daqui a cinco ou dez anos vai ter vários lugares com esses cargos", afirma Kitahara.

Segundo Denize Savi, CHO da Chilli Beans, a companhia passou a realizar encontros semanais e presenciais com funcionários do escritório central, em Barueri (SP).

Com duração de duas horas, a reunião é presencial e serve para que os colaboradores expressem seus sentimentos em relação ao trabalho e suas vidas pessoais por meio de dinâmicas e conversas.

A nova função não se limita às empresas mais conhecidas nem aos segmentos mais comuns. No Haganá, grupo que presta serviços de segurança, a CHO Ana Carolina Rangel foi contratada recentemente. Ela diz que uma das ações na função é realizar testes para identificar o nível de felicidade e medir o que chama de sabotadores (características como hipervigilância e controle excessivo).

"A liderança é tática, com uma comunicação clara. É toda uma mudança de relacionamento dos líderes com os seus colaboradores", diz Rangel.

O cargo de CHO também pode aparecer com outros nomes, mas com atribuições semelhantes. A Ambev tem uma diretora de saúde mental desde 2020. Já no caso do Woba, de escritórios compartilhados, a função é chamada de head of love –algo como líder do amor.

Carla Furtado, do Instituto Feliciência, que oferece cursos para formação de diretores de felicidade, alerta para o que chama de happywashing –quando empresas não estão, de fato, comprometidas a melhorar o ambiente de trabalho e usam o certificado do treinamento somente para promover a própria marca.

O tiro, porém, pode sair pela culatra. Ao mostrar que suas ações não condizem com o discurso de bem-estar no ambiente de trabalho, a empresa pode se deparar com um desengajamento entre os colaboradores, explica Furtado.

"O colaborador não é inocente, ele percebe. A companhia levanta a expectativa de que agora está preocupada com o bem do funcionário e daqui a pouco mostra que aquilo não é congruente com suas ações. Acaba tendo um efeito rebote."

Apesar da popularização entre as empresas, pessoas físicas também podem participar dos treinamentos. Com um preço de R$ 3.600 por pessoa, a Reconnect diz oferecer palestras e dinâmicas durante um curso presencial de três dias em São Paulo.

O perfil dos alunos nem sempre é o mesmo, diz Renata Rivetti, fundadora do Reconnect. Às vezes, é um profissional do setor de recursos humanos, um líder de outras áreas, como marketing e jurídico, e até consultores, que querem elaborar um plano de felicidade para companhias.

Também há uma certificação in company, com uma turma de 10 a 20 funcionários da empresa e com aulas voltadas para a realidade daquela companhia.

 

Apesar da criação de cargos de CHOs, Rivetti sente que nem sempre os alunos formados têm a possibilidade de elaborar um grande projeto.

"O que eu vejo acontecendo no mercado é ainda passo a passo. Muitos deles estão começando a fazer mudanças, passando ferramentas para a liderança, mas sem ter um projeto de felicidade corporativo", afirma (Folha de S.Paulo, 30/7/23)


Como praticar o sentimento de gratidão para melhorar a satisfação com a vida

Cultivar a gratidão pode aumentar a autoestima e melhorar a satisfação com a vida. Imagem Lucy Jones-The New York Times

 

Contar nossas bênçãos também pode reduzir sintomas de depressão e ansiedade, além de aumentar a autoestima.

Quando eu era criança, na Califórnia, vivendo longe de nossos familiares mais distantes, meu irmão e eu sempre encerrávamos a época das festas de fim de ano mandando cartas de agradecimento aos parentes.

Aos oito anos, as cartas já eram muito mais que apenas um agradecimento obrigatório por uma boneca ou uma roupa nova recebida: eram uma oportunidade de compartilhar partes de minha vida com os tios, tias e avós que eu raramente via pessoalmente.

Hoje em dia escrever cartas parece algo antiquado, mas quando examinei a ciência por trás da gratidão em artigo que li no mês passado, descobri que expressar um agradecimento não precisa levar muito tempo. Mesmo uma mensagem de texto curtinha pode reforçar nossos laços sociais.

Cultivar uma atitude de gratidão e reservar alguns minutos por dia para contar nossas bênçãos também pode reduzir sintomas de depressão e ansiedade, aumentar a autoestima e melhorar a satisfação que sentimos com a vida.

Nas palavras de um especialista, a gratidão tem resultados positivos que se perpetuam.

Nesse espírito, pedimos a leitores para nos dizerem como praticam a gratidão. Recebemos quase 800 respostas. Veja algumas das estratégias.

A psicóloga Inger E. Burnett-Zeigler recomenda pensar em maneiras criativas de meditar, usando momentos do dia a dia, como o café da manhã. Foto Adobe Stock

DEMONSTRE

Jeanne Rogow, 63, vive em Traverse City, Michigan, e conta: "Meu marido e eu nos revesamos diariamente para contar um ao outro três coisas pelas quais nos sentimos gratos. Se deixamos um dia passar em branco, digo a mim mesma antes de adormecer."

Mitchell Shapiro, 69, de Forte Lee, Nova Jersey, diz que agradece a sua mulher cada vez que ela cozinha uma refeição. "Ela não gosta de cozinhar", conta ele. "Eu lavo a louça. Com gratidão."

E William McDonnell, 75, também de Nova Jersey, escreve bilhetinhos de agradecimento a todo o mundo que é prestativo e simpático. Pode ser um representante de atendimento ao consumidor numa loja ou um parente que passou tempo com ele. "As pessoas gostam realmente quando são reconhecidas por algo positivo que fizeram", diz.

COMBINE A GRATIDÃO COM MOVIMENTO

Vários leitores disseram que exercício físico e ações de gratidão são uma combinação muito boa.

Deborah Rathbun, 66, de Sharon, Connecticut, sai para caminhar várias vezes por semana, sempre prestando atenção à beleza que a cerca. "O azul do céu, as árvores verdejantes, como a bandeira está flutuando na brisa, um chuvisco que fará tanto bem aos jardins".

Em seguida ela reflete sobre as 24 h anteriores e "as coisinhas pequenas que deram certo ou com as quais estou satisfeita". Pode ser uma troca de palavras e sorrisos com um balconista ou uma mensagem de texto que ela finalmente enviou a uma amiga.

Quando ela volta para casa depois da caminhada, conta, sente-se tranquila, com a mente desanuviada.

REGISTRE O QUE VOCÊ QUER DIZER

Mais de cem leitores disseram que usam diários ou aplicativos como Day One, Gratitude Plus e Flavors of Gratefulness para registrar as coisas boas que acontecem em suas vidas.

"A melhor coisa que minha terapeuta me ensinou foi gravar minha ‘vitória’ todos os dias", diz Elizabeth Chan, 35, residente em San Antonio. "Isso tem me ajudado a desenvolver meus músculos do otimismo, que estavam atrofiados havia décadas."

O transtorno depressivo -CID 10 - F33- é uma doença psiquiátrica crônica. Foto  Pixabay

 

DÊ VAZÃO AO SEU LADO ARTÍSTICO

"Eu pinto pequenas aquarelas e escrevo uma nota no verso", conta Owen Harvey, 49, de Kingston, Nova York. E então os manda pelo correio a um amigo ou parente.

Harvey diz que esse hábito nasceu durante os momentos de maior isolamento devido à pandemia.

"As redes sociais não tinham a intimidade de conexão que me fazia falta", afirma ele. "Parecia algo impessoal demais."

INCLUA A GRATIDÃO EM SUA ROTINA NOTURNA

"Toda noite, depois de desligar a luz e me acomodar para dormir, penso em cada pessoa com quem estive ao longo do dia, desejando-lhes consolo e agradecendo pela presença delas no meu dia", conta Carol Mangowan, 70, de Salisbury, Connecticut.

A lista é tão longa que ela geralmente adormece antes de terminar.

"Além de cair em um sono profundo, o benefício desse hábito é me proporcionar uma sensação profunda de conexão com a condição humana e com meu lugar no mundo", conta.

AGRADEÇA COMO PARTE DE UM GRUPO

Louise Miller, 52, de Boston, diz que escreve sua lista de gratidão em um diário e a envia para um grupo de amigas que também compartilham suas próprias listas. "Elas quase sempre incluem alguma coisa que me inspira a sentir mais gratidão", conta ela. "É uma coisa contagiante!"

Zach Ford, 33, morador do Brooklyn, em Nova York, afirma que desde suas primeiras semanas de sobriedade, seis anos atrás, ele segue uma prática de gratidão quase diária. Toda manhã ele compartilha sua lista de gratidão em um email enviado a algumas outras pessoas.

"Nos primeiros dias de sobriedade, não me pareceu que eu tivesse muita coisa a comemorar", conta ele. "Mas a prática de gratidão me ajudou a rever isso. Em vez de enfocar o negativo, ou as coisas que não estavam indo bem, comecei a destacar as coisas positivas. Isso não quer dizer que eu não sinta mais tristeza ou dor, mas me deu a capacidade de enxergar o bom e o ruim simultaneamente e reduziu tremendamente os momentos de desesperança" (The New York Times, 30/7/23)

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