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Por Pam Belluck
Estudo acompanhou mais de 200 pacientes por períodos de 2 a 3 meses após diagnóstico da doença.
É um dos muitos mistérios sobre a Covid longa: quem tem maior propensão a desenvolvê-la? Será que algumas pessoas apresentam mais probabilidade do que outras de experimentar sintomas físicos, neurológicos ou cognitivos que podem emergir, ou persistir por meses depois que suas infecções pelo coronavírus acabam?
Agora, uma equipe de pesquisadores que acompanhou mais de 200 pacientes por períodos de dois a três meses depois que eles foram diagnosticados reportou ter identificado fatores biológicos que podem ajudar a prever se uma pessoa desenvolverá Covid longa.
O estudo, publicado na terça-feira (25) pela revista científica Cell, encontrou quatro fatores que poderiam ser identificados cedo na infecção de um paciente por coronavírus e parecem apresentar correlação com um risco ampliado de ter sintomas duradouros mais tarde.
Os pesquisadores disseram ter encontrado uma associação entre esses fatores e a Covid longa (que leva o nome médico de Sequelas Pós-Agudas de Covid-19, ou PASC), quer a infecção inicial seja amena ou severa. Eles disseram que as constatações podem indicar maneiras de prevenir ou tratar alguns casos da Covid longa, o que inclui a possibilidade de ministrar aos pacientes medicamentos antivirais logo depois que uma infecção seja diagnosticada.
"É a primeira tentativa realmente sólida de desenvolver alguns mecanismos biológicos para a Covid longa", disse o médico Steve Deeks, professor de medicina na Universidade da Califórnia em San Francisco, que não participou do estudo.
Ele e outros especialistas, bem como os autores do estudo, acautelaram que as descobertas são apenas preliminares e necessitariam ser verificadas por meio de pesquisas consideravelmente maiores.
Ainda assim, disse Deeks, "eles identificaram esses quatro grandes fatores. Cada qual é biologicamente plausível, compatível com as teorias que outras pessoas estão desenvolvendo e, o que é importante, os quatro podem ser combatidos. Se esses caminhos forem confirmados, nós como clínicos poderemos criar intervenções que trazem melhoras para as pessoas. Essa é a mensagem importante da pesquisa".
Um dos quatro fatores que os pesquisadores identificaram é o nível de RNA do coronavírus no sangue nos primeiros estágios de uma infecção, um indicador da carga viral. Outro é a presença de certos autoanticorpos, anticorpos que atacam tecidos do corpo indevidamente, da maneira que acontece no caso de doenças como lúpus e artrite reumática. Um terceiro fator é a reativação do vírus de Epstein-Barr, um vírus que infecta a maioria das pessoas, usualmente quando elas são jovens, e depois fica adormecido.
O fator final é ter diabete do tipo 2, ainda que os pesquisadores e outros especialistas digam que em estudos envolvendo grandes números de pacientes possa surgir a informação de que o diabetes é apenas uma de diversas condições médicas que aumentam o risco de Covid longa.
"Acredito que essa pesquisa enfatize a importância de conduzir mensurações cedo no curso da doença para descobrir como tratar pacientes, mesmo que não saibamos realmente como vamos usar toda essa informação por enquanto", disse Jim Heath, diretor de pesquisa do estudo e presidente do Institute for Systems Biology, uma organização de pesquisa biomédica sem fins lucrativos sediada em Seattle.
"Assim que se torna possível medir alguma coisa, você começa a poder fazer algo a respeito", disse Heath, acrescentando que "fizemos essa análise porque sabemos que pacientes vão ao médico e dizem que estão se sentindo cansados o tempo todo, ou algo assim, e o médico lhes diz simplesmente para dormir mais. Isso não ajuda muito. Por isso, queríamos ter uma maneira prática de quantificar e dizer que de fato há alguma coisa de errada com esses pacientes".
O complexo estudo tinha diversos componentes e envolveu dezenas de pesquisadores em diversas universidades e centros de pesquisa, entre os quais o Institute for Systems Biology, a Universidade de Washington e o Swedish Medical Center em Seattle, onde o principal autor médico do estudo, Jason Goldman, é especialista em doenças infecciosas.
O grupo primário de pacientes incluía 209 pessoas com idades dos 18 aos 89 anos, infectadas com o coronavírus em 2020 ou no começo de 2021, e que foram atendidas no Swedish Medical Center ou em uma clínica afiliada. Muitas foram hospitalizadas por conta da infecção inicial, mas algumas foram atendidas apenas como pacientes clínicos. Pesquisadores analisaram amostras de sangue e muco nasal quando os pacientes foram diagnosticados, durante a fase aguda de suas infecções, e dois ou três meses mais tarde.
Eles pesquisaram os pacientes quanto a 20 sintomas associados à Covid longa, entre os quais fadiga, respiração difícil e dificuldade de pensar, e corroboraram os relatórios por meio de registros eletrônicos de saúde, disse Heath.
Ele disse que 37% dos pacientes tinham reportado três ou mais sintomas de Covid longa nos dois ou três meses posteriores à infecção. Outros 24% reportaram um ou dois sintomas, e 39% não reportaram qualquer sintoma. Dos pacientes que reportaram três ou mais sintomas, 95% tinham um ou mais dos quatro fatores biológicos identificados no estudo quando receberam seus diagnósticos de Covid-19, disse Heath.
O fator mais influente parece ser os autoanticorpos, associados a dois terços dos casos de Covid longa, segundo Heath. Cada um dos demais três fatores apareceu em cerca de um terço dos casos, ele disse, e havia considerável sobreposição, com diversos fatores identificados, em alguns pacientes.
"O estudo é grande e abrangente, e um grande recurso para a comunidade de pesquisadores que estuda a Covid longa", disse Akiko Iwashi, imunologista na Universidade Yale, que não participou da pesquisa.
Avindra Nath, médico e diretor do departamento de infecções do sistema nervoso no Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrames dos Estados Unidos, que não esteve envolvido no estudo, definiu-o como bem projetado, mas apontou para diversos pontos fracos, entre os quais o fato de os pacientes terem sido acompanhados por apenas dois ou três meses. "Pode ter sido um período curto demais", ele disse. "Alguns deles podem simplesmente melhorar espontaneamente, com o tempo".
Iwasaki apontou que 71% dos pacientes do grupo primário tinham sido hospitalizados, o que limita a capacidade de concluir que os fatores biológicos são igualmente relevantes para as pessoas que sofrem infecções iniciais amenas.
Uma conclusão persuasiva, disseram diversos especialistas, foi a sugestão de que, já que pacientes com cargas virais pesadas no começo do processo muitas vezes desenvolvem a Covid longa, tratá-los com antivirais logo depois do diagnóstico pode ajudar a prevenir sintomas de longo prazo.
"Quanto mais rápido uma pessoa puder eliminar o vírus, menor a probabilidade de desenvolver um vírus persistente ou autoimunidade, que pode impulsionar a Covid longa", disse Iwasaki (The New York Times, 27/1/22)
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