COVID Imagem Jefferson Peixoto

Parece que nossas autoridades pouco aprenderam com a pandemia

Pesquisa realizada pelo SindHosp mostra que, entre 7 e 21 de novembro, 84% dos hospitais paulistas pesquisados (de um total de 90) registraram aumento no atendimento de casos suspeitos ou confirmados de Covid-19. Em 39%, o aumento ficou entre 21% e 30% dos atendimentos de pacientes com suspeita da doença e, em 31% dos serviços, variou entre 11% e 20%. O alento é que a maior parte dos hospitais (73%) relata que as internações de pacientes com Covid cresceram pouco: até 5%, tanto em leitos clínicos como nos de UTI.

O retorno da Covid-19 já era tido como certo por várias razões. A primeira é a enorme capacidade de mutação do vírus. A variante ômicron, por exemplo, já produziu várias linhagens. Em julho, a Organização Mundial da Saúde divulgou que os casos de Covid-19 tinham crescido 30% em todo o mundo, naquele mês, devido às variantes BA4 e BA5.

A segunda razão é que as medidas de proteção sanitárias individuais e coletivas foram desincentivadas. O uso obrigatório de máscaras nos transportes públicos, escolas e ambientes corporativos deveria ter sido mantido por mais tempo —agora, com o aumento no número de casos, precisa voltar com urgência. O cuidado com a lavagem das mãos e o uso do álcool 70% também deveriam continuar sendo estimulados, o que não aconteceu.

A melhor medida sanitária que existe atualmente são as vacinas. E, nesse quesito, também estamos falhando. A equipe de transição de governo anunciou que o Ministério da Saúde não formalizou a compra de todas as doses necessárias para vacinar a população contra o coronavírus em 2023. Na outra ponta, dados do consórcio de veículos de imprensa, a partir de informações das secretarias estaduais de Saúde, indicam que, em 22 de novembro, apenas 49,3% dos brasileiros haviam tomado a dose de reforço (terceira e/ou quarta).

 

Infelizmente, retóricas negativistas do governo federal parecem ter abalado a confiança que a sociedade sempre teve no Plano Nacional de Imunização, que é referência mundial. O fato de menos da metade da população ter tomado a dose de reforço e as quedas sucessivas na cobertura vacinal infantil apontam nessa direção. Vale ressaltar que as vacinas contra a Covid-19 são seguras, protegem contra o vírus ou evitam que a doença se agrave —e os eventuais efeitos adversos são baixos.

Hoje, as doses disponíveis pelo SUS não protegem contra as novas variantes. Aparentemente, o Ministério da Saúde mostrou certa apatia nesse ponto, pois vacinas bivalentes já são aplicadas há meses em vários países do mundo. Ainda que a Anvisa tenha aprovado recentemente o uso delas, o ministério já poderia estar em estágio adiantado de compra. É lamentável que a oferta desse imunizante demore tanto para chegar à população.

 

A vacinação é a responsável pelas internações não terem subido tanto, mesmo com a alta de casos Covid-19. Lamentavelmente, parece que nossas autoridades aprenderam pouco com a fase aguda da pandemia.

O grande dramaturgo Bertolt Brecht tem uma frase que cabe perfeitamente ao momento atual: "Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?" (Francisco Balestrin é médico e presidente do SindHosp (Sindicato de Hospitais, Clínicas, Laboratórios e Estabelecimentos de Saúde do Estado de São Paulo); Folha de S.Paulo, 14/12/22)

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